terça-feira, 3 de novembro de 2015

“A gente cai, leva um tombo, mas levantamos mais fortes!”. Esperança, alegria e muito trançado




“Vou lutar pelo meu artesanato, pela minha cultura”
(Maria de Lourdes, artesã de Subauma)

Foi com um discurso poético e feminista que o II Encontro Regional das artesãs do trançado de piaçava do Litoral Norte da Bahia começou. O evento foi organizado pelo Instituto Berimbau  em parceria com o CESOL (Centro Público de Economia Solidária) e reuniu mais de 130 artesãs associadas da COPARTT (Cooperativa de Artesanato do Trançado Tupinambá) além de outros grupos produtivos do artesanato de piaçava da região. Iniciado às 08:00 do dia (28), um grande café da manhã foi oferecido as artesãs, um momento em que puderam socializar entre elas pouco antes das atividades serem oficialmente iniciadas.

Presentes na mesa de convidados o presidente da Câmara de Mata de São João, Alexandre Rossi, Emília Almeida do Ministério do Trabalho Emprego e Renda de Mata de São João, Jorge Cortez da Associação Terra Viva, Rita Rulf do Sebrae, Suzana Silva da secretária do prefeito de Entre Rios e Jasmim Reuther representando a Secretaria de Turismo de Mata de São João.

Foram discutidas pautas extremamente importantes, como a valorização da cultura e do artesanato local, além do trançado como forma de expressão cultural e de poder feminino.

A princípio, Renata Zambonim explicou como funciona a Cartografia Social.  Ela argumentou que essa é uma nova forma de compreender o espaço e território, sua estrutura é composta pelo modo de vida e de trabalho dos artesãos. Nele, encontra-se também pontos autorizados para a extração de matérias primas para os artesanatos, além de indicar várias outras informações importantes.
Renata Zambonim do Educambiente
Em seguida, pudemos conhecer um pouco mais sobre a trajetória das mulheres artesãs presentes no evento. Lidijovania Soares, artesã do traçado de piaçava compartilhou a sua história de vida com o público, além de citar o grande sucesso que os materiais produzidos aqui na região fazem pelo mundo. A mesma explicou a importância do construir para propagar cultura, os materiais das artesãs já são reconhecidos até mesmo fora do país em exposição no Marrocos, além de estarem presentes nas passarelas da moda, utilizados como adereços fashion. Mas não parou por aí, em um segundo momento da sua apresentação, Lidijovania emocionou a todos com o seu discurso de fé, vontade e força ao lembrar do motivo pelo qual o artesanato passou a fazer parte da sua vida, a mesma mostrou-se perseverante, apaixonada e principalmente muito grata a sua mãe por tê-la apresentado ao caminho da arte.

“Quanto mais eu faço minhas bolsinhas, minhas tranças, mais vontade eu tenho” 
(Maria Silva, artesã da associação de Vila do Sauípe)

Mãe de 14 filhos, Maria começou a desenvolver o trabalho de trançado aos 9 anos de idade, enfrentou muitas dificuldades com seu o marido desempregado e mesmo assim não se deixou enfraquecer, com a ajuda da mão de obra dos seus filhos pequenos ela passou a sustentar toda a sua família com o trançado. Na comercialização, ela cobrava cerca de R$ 2,50 por bolsa, porém nunca abandonou o sonho de viver dias melhores, um futuro onde seu artesanato alcançaria o reconhecimento e devido merecimento. “Através do meu trabalho e do meu esforço, Deus tem me ajudado”, disse ela.

“Acreditar”, essa é a palavra mais utilizada por todas as artesãs, elas confiam em cada peça pronta, em cada trançado formado, toda a sua essência e amor são inseridos em sua obra finalizada. A partir disso, a luta por mais cultura transformou-se em um dever de todos aqueles que acreditam’ em sua história e em sua origem.

Segundo a Coordenadora de Turismo de Entre Rios, Suzana Silva, os grupos ainda precisam de muito apoio. Ela frisa que a luta continua dia após dia e cada vitória merece ser comemorada, “quero parabenizar todas as artesãs por desenvolverem o sociativismo, é algo realmente muito difícil” finaliza.

 “Viemos de mãos vazias, trazemos apenas o nosso olhar”.
(Rita Hulf)

A emoção transborda ao relembrarem de todas as conquistas alcançadas e principalmente por recordarem como eram as condições em que viviam anos atrás. As artesãs demonstram sentir orgulho do que fazem e louvam agradecidas por serem partes dessa grande história. “A gente cai, leva um tombo, mas levantamos mais fortes”, disse Maria de Lourdes, artesã de Subauma.

Logo após a pausa para o almoço a emoção transformou-se em animação e alegria. O momento foi de descontração e muita cantiga de roda, mulheres de todas as idades fizeram dessa hora uma das mais agitadas e mais marcantes. A expressão cultural passada de geração para geração mostrou-se estar ainda mais vívida e com muito vigor.

As artesãs formaram uma grande roda e cantaram com muita alegria

Veja logo a seguir todas as fotografias capturadas no evento:

































































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