“Vou
lutar pelo meu artesanato, pela minha cultura”
(Maria de Lourdes, artesã de
Subauma)
Foi com um discurso poético e feminista
que o II Encontro Regional das artesãs do trançado de piaçava do Litoral Norte
da Bahia começou. O evento foi organizado pelo Instituto Berimbau em parceria com o CESOL (Centro Público de Economia Solidária) e reuniu mais de 130 artesãs associadas da COPARTT (Cooperativa de Artesanato do Trançado Tupinambá) além de outros grupos produtivos do artesanato de piaçava da região. Iniciado às 08:00 do dia (28), um grande
café da manhã foi oferecido as artesãs, um momento em que puderam socializar entre elas pouco
antes das atividades serem oficialmente iniciadas.
Presentes na mesa de
convidados o presidente da Câmara de Mata de São João, Alexandre Rossi, Emília Almeida do
Ministério do Trabalho Emprego e Renda de Mata de São João, Jorge Cortez da
Associação Terra Viva, Rita Rulf do Sebrae, Suzana Silva da secretária do
prefeito de Entre Rios e Jasmim Reuther representando a Secretaria de Turismo
de Mata de São João.
Foram discutidas pautas
extremamente importantes, como a valorização da cultura e do artesanato local,
além do trançado como forma de expressão cultural e de poder feminino.
A princípio, Renata Zambonim explicou como funciona a Cartografia
Social. Ela argumentou que essa é uma
nova forma de compreender o espaço e território, sua estrutura é composta pelo modo
de vida e de trabalho dos artesãos. Nele, encontra-se também pontos autorizados
para a extração de matérias primas para os artesanatos, além de indicar várias
outras informações importantes.
Renata Zambonim do Educambiente |
Em seguida, pudemos conhecer
um pouco mais sobre a trajetória das mulheres artesãs presentes no evento.
Lidijovania Soares, artesã do traçado de piaçava compartilhou a sua história de
vida com o público, além de citar o grande sucesso que os materiais produzidos
aqui na região fazem pelo mundo. A mesma explicou a importância do construir
para propagar cultura, os materiais das artesãs já são reconhecidos até mesmo
fora do país em exposição no Marrocos, além de estarem presentes nas passarelas
da moda, utilizados como adereços fashion. Mas não parou por aí, em um segundo
momento da sua apresentação, Lidijovania emocionou a todos com o seu discurso
de fé, vontade e força ao lembrar do motivo pelo qual o artesanato passou a
fazer parte da sua vida, a mesma mostrou-se perseverante, apaixonada e
principalmente muito grata a sua mãe por tê-la apresentado ao caminho da arte.
“Quanto
mais eu faço minhas bolsinhas, minhas tranças, mais vontade eu tenho”
(Maria Silva, artesã da
associação de Vila do Sauípe)
Mãe de 14 filhos, Maria
começou a desenvolver o trabalho de trançado aos 9 anos de idade, enfrentou
muitas dificuldades com seu o marido desempregado e mesmo assim não se deixou enfraquecer,
com a ajuda da mão de obra dos seus filhos pequenos ela passou a sustentar toda
a sua família com o trançado. Na comercialização, ela cobrava cerca de R$ 2,50
por bolsa, porém nunca abandonou o sonho de viver dias melhores, um futuro onde seu
artesanato alcançaria o reconhecimento e devido merecimento. “Através do meu trabalho e do meu esforço,
Deus tem me ajudado”, disse ela.
“Acreditar”, essa é a palavra
mais utilizada por todas as artesãs, elas confiam em cada peça pronta, em cada
trançado formado, toda a sua essência e amor são inseridos em sua obra
finalizada. A partir disso, a luta por mais cultura transformou-se em um dever
de todos aqueles que acreditam’ em sua história e em sua origem.
Segundo a Coordenadora de Turismo
de Entre Rios, Suzana Silva, os grupos ainda precisam de muito apoio. Ela frisa
que a luta continua dia após dia e cada vitória merece ser comemorada, “quero
parabenizar todas as artesãs por desenvolverem o sociativismo, é algo realmente
muito difícil” finaliza.
“Viemos de mãos vazias, trazemos apenas o
nosso olhar”.
(Rita Hulf)
Logo após a pausa para o almoço a emoção transformou-se em animação e alegria. O momento foi de descontração e muita cantiga de roda, mulheres de todas as idades fizeram dessa hora uma das mais agitadas e mais marcantes. A expressão cultural passada de geração para geração mostrou-se estar ainda mais vívida e com muito vigor.
As artesãs formaram uma grande roda e cantaram com muita alegria |
Veja logo a seguir todas as fotografias capturadas no evento:
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